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segunda-feira, 22 de abril de 2013

El pueblo toma os Renoir

 Associações cidadãs de caráter assembleário tomam conta de
cinemas na Espanha

Atenção, pergunta: Seu cinema local ameaça fechar? 
Não se preocupe: entre pela porta, tome o controle do projetor e ponha o filme que te dá vontade. 
A revolução, chegou! 
Vamos ver o novo filme de Michael Haneke por bem ou por mal... O anúncio de que Alta Films, líder da exibição e distribuição de cinema independente na Espanha, ameaçava com a possibilidade de fechar ou uma drástica restruturação de sua empresa, pegou despreparados a muitos, mas não a todos. Faz alguns meses que diversas cooperativas e associações cidadãs lutam para tomar o controle dos Renoir (propriedade de Alta) e de outros cinemas alternativos do país. Tudo começou em Mallorca faz um ano, mas o movimento se estende agora a cidades como Zaragoza, Majadahonda e Sevilha. O povo unido quer ver cinema austríaco em versão original. Queiram quem quiser.
 Palma de Mallorca, maio de 2012, a sala Renoir anuncia seu fechamento eminente. Um grupo de espetadores se concentra junto aos cinemas para distribuir panfletos. Nascia a plataforma Salvem os Renoir, impulsionada por um velho conhecido da cena cinematográfica local, Pedro Barbadillo, diretor da Mallorca Film Commission. Em algumas horas a iniciativa se transforma em movimento social assembleário. Dias depois, Alta cede seu espaço a associação de maneira amistosa.
 Em 13 de julho se abrem pela primeira vez as salas CineCiutat, antigos Renoir Palma. Hoje em dia projetam sucessos recentes do cinema de autor como Amor, de Michael Haneke ou Declaración de guerra, de Valérie Donzelli. A principal fonte de financiamento deste cinema sem busca de lucro são as contribuições de seus 1.500 sócios e membros.  Se você paga 100 euros ao ano passa a ser co-proprietário do cinema. As decisões se tomam em assembléia. CineCiutat é o cinema mais barato de Mallorca. A revolução cinéfila popular triunfou.   

Alternativas cidas

Alta Films revendeu os projetores e as cadeiras a associação no mês de maio passado. Manter os Renoir custava 14.000 euros por mês, a metade se ia no aluguel, parte do resto em salários. O edifício era propriedade da sociedade pública Mercasa, que o alugou à associação com um desconto de 40% no primeiro ano (a 30% no segundo, 20% no terceiro e 10% no quarto). Renoir tinha seis empregados, que foram indenizaram e despedidos. CineCiutat lhes ofereceu um novo contrato. Dois deles voltaram a trabalhar nos cinemas, ainda que um o tenha o deixado ha algumas semanas. CineCiutat dá trabalho agora a 4 pessoas.
 Os associados pagam 55 euros por 10 entradas ou 100 euros por 20. A quota anual de 100 euros da direito aos co-proprietarios a ver as estréias por 4 euros e ir grátis ao cinema uma vez ao mês. Mais de 100 sócios são voluntários que participam na gestão diária do cinema, organizada em 9 comissões de trabalho.
 Que CineCiutat é algo mais que um cinema demonstra sua agitada agenda cultural. Oficinas, festivais, lançamento de livros, cinema para pais e mães (com monitores cuidando das crianças na sala ao lado), colóquios e conversas com diretores como Jaime Rosales, David Trueba, Javier Rebollo, Ventura Pons ou Patricio Guzmán.
 Até aqui os dados. Agora vamos às avaliações. “O balanço é muito positivo. Salvamos uma infra-estrutura cultural que estava perdida. O cinema se converteu em um foco muito ativo da cultura em Palma”, conta Pedro Barbadillo a El Confidencial.
 Javier Pachón, gerente de CineCiutat, assinala as duas escolhas econômicas principais para levar adiante o projeto: a inversão tecnológica (digitalização) o dia a dia (exemplificado na subida do Imposto de Valor Agregado). “A digitalização requer um investimento mínimo de uns 45.000 euros por sala. Se não das o salto, tu vais ficando sem filmes. Agora mesmo já é difícil encontrar cópias de cinema de autor em 35 mm”, conta Pachón. Um grupo de 20 sócios contribuíram com 500 e 2.500 euros para comprar dois projetores HD para as duas salas pequenas. Agora buscam financiamento para comprar mais dois projetores para as grandes.

A cultura não é um luxo

A rotina diária também se alterou. Pachón explica com detalhes de onde vem o preço de uma entrada para esclarecer o impacto da subida do IVA (o mais alto da Europa). “Precisamente 21% vai para o Estado e o 2% para os direitos autorais. O resto, mais ou menos, se distribui em partes iguais entre os demais agentes: distribuidor, exibidor… Se a entrada vale 7 euros, a sala de cinema fica com 2,82. E algumas de nossas entradas valem 4 euros”, explica.
 CineCiutat, não obstante, tem resistido a aplicar o novo IVA. “É um imposto de luxo e a cultura não deve ser um luxo. Temos que proteger ao cidadão. Ainda mais se o cidadão é o dono do cinema”, aclara Pachón.
 Do mesmo modo que Mallorca seguiu o exemplo estadunidense dos community supported cinemas, o efeito contagiante tem chego agora a outras cidades da península. CineCiutat mantêm um “contato permanente” com "uma dezena" de outras iniciativas similares surgidas em cidades como Zaragoza, Majadahonda, Valência, Córdoba, Guadalajara e Sevilha. Cidades onde se resistem ao fechamento das salas alternativas pelas múltiplas crises que afetam a versão original. Uma recessão econômica que não só ameaça a Alfa Films, propriedade de Enrique González Macho, o presidente da Academia de Cinema.
Barbadillo escreveu ontem a González Macho oferecendo-lhe colaboração. “ Quanto menos distribuidoras existirem mais difícil será que cheguem os filmes a cinemas como o nosso”. Colaboração e envolvimento contra a crise, palavras chaves da próxima iniciativa de CineCiutat: a campanha Apadrinhe uma cadeira. “Um apelo as pessoas do cinema para que se envolveam economicamente no projeto”, explica Barbadillo.
 “A situação econômica é complicada e aos sócios lhes custa as vezes renovar as cotas, mas nosso modelo vai adiante. A médio prazo quem sabe seja a única forma que sobreviva o circuito não comercial. Há um espaço para este tipo de cinema. Agora mesmo temos os mesmos expectadores que os Renoir quando fecharam. Como avaliamos isso. Temos mais margem que eles por ser um projeto sem busca de lucro. Quase todo o rendimento econômico se volta ao espectador. O futuro pode ir por aí”, reflete Barbadillo.

Livre traduçÃo: Juvei
Publicado originalmente em: http://www.elconfidencial.com/cultura/2013/04/19/el-pueblo-toma-los-renoir-119192/

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