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quarta-feira, 2 de maio de 2012

As novas formas de fazer Cinema




A indústria cinematográfica acabou

O diretor, produtor e roteirista cearense Francis Vale é, por assim dizer, a memória viva do cinema do Ceará, e porque não dizer do Nordeste. Diretor de cerca de uma dezena de filmes, Vale é sócio-fundador e ex-presidente da Associação Brasileira de Documentaristas – Secção Ceará (ABD-CE) – 1981-1985 e 1986-1987, entre outras entidades. O cineasta é referência na área cinematográfica, testemunha ocular e participativa de diversos episódios que tiveram o Cinema como pano de fundo. Nesta entrevista, Francis Vale é duro nas críticas a colegas do cenário cinematográfico, a quem chama de “coronéis de merda”, e afirma que a era digital exige uma outra postura sobre as novas oportunidades de se fazer cinema. 

Qual sua opinião sobre as novas formas de se fazer cinema no Brasil?

Francis Vale. Nós estamos na era digital. A tecnologia digital já revolucionou tudo. Mesmo assim o Ceará, por exemplo, está dando dinheiro através de editais para filmes em película. Mais de 1 milhão de reais. Para quê isso? Querem até fazer um laboratório de transfer (transferência de imagem digital para película). Como assim? Estamos na era digital. O pessoal não depende de câmeras e equipamentos pesados, analógicos, como antes. Hoje, com uma câmera de celular você grava um filme e ganha prêmio em festival. Nos festivais o que se busca é a criatividade. E tem gente que espalha para a meninada que só é cineasta quem faz filme em película, o que eu apelidei de “orgasmo pelicular”. Nós trabalhamos é com cinema de chaveiro, meu filho, no qual é possível colocar um filme de três horas dentro de um pen drive. Como é então que estão falando de um analógico que pesa 40, 50 quilos? Isso tudo é uma ruma de lata. O que nós estamos vendo hoje é uma mudança na qual as telefônicas vão poder emitir conteúdo. Elas vão pedir, cada vez mais, conteúdos curtos, de cinco minutos. Não vão querer que você veja um filme de duas horas em uma telinha. O próprio mercado que vai surgir com essa mudança, vai pedir conteúdos curtos. E mesmo assim o Ceará continua financiando filmes longos em película.  Ele está defasado, totalmente na contramão do mercado.

O senhor considera que falta política pública para o Cinema?

FV. Tem política pública, mas falta política de exibição. Mais de 70% dos filmes de longa metragem brasileiros não são exibidos. Eles são feitos e jogados na prateleira, mesmo os que são convertidos para película. As salas estão fechadas para eles, pois tudo está na mão das distribuidoras americanas. Para se ter uma ideia, 95% dos filmes exibidos no País são americanos. Filme brasileiro não tem nem em 10% das salas. E o governo faz de conta que age. No dia 23 de junho de 2010, o então presidente Lula baixou uma medida provisória incentivando a criação de salas populares, mas eu não conheço nenhuma sala dessas, a não ser a do Morro do Alemão (Rio de Janeiro), que por conta daquela pacificação já tem até 3D. Então não tem política de exibição. 

Se as salas de cinema não exibem de forma relevante o cinema brasileiro, quais saídas as produções estão encontrando? 
FV. O cinema brasileiro está sendo visto nos pequenos festivais e nos cine clubes, ou em uma ou outra escola. Mas isso não é representativo. Um filme sobre Antonio Carlos Jobim (“A Música Segundo Tom Jobim”) foi marginalizado aqui em Fortaleza. Então o que você quer?  Esse filme estava em três sessões: 14h, 18h e 22h. Depois botaram em só uma, às 18:30h. Perguntei se muita gente estava indo ver o filme, e me responderam que sim, pois caso contrário já teria saído de cartaz. Mas como não era tanta gente assim, já viu, reduziram. E olha que os donos do local onde ele estava sendo exibido, o Unibanco, eram sócios na distribuição do filme. Definitivamente não dá para competir com as salas de shopping. Elas estão no nosso território, mas não são nossas. Sabe quanto custa para lançar um filme nas salas de exibição? Sabe quanto você paga para lançar um filme desses? Cerca de 150 mil reais para os barões da imprensa. Caso contrário, não sai nada sobre o filme. Eu estou lançando o filme Dom Fragoso, mas não vou exibi-lo (o filme é sobre Antônio Batista Fragoso, paraibano que tornou-se o primeiro Bispo da Diocese de Crateús, no sertão cearense, e que trabalhou na organização dos trabalhadores rurais em meio ao regime militar). 

O senhor considera que a perspectiva de o Estado estar na contramão do mercado existe em outros Estados do Nordeste?
FV. Sim. O Brasil está na contramão do mundo. Os Estados Unidos já têm mais de 50% das salas digitalizadas e a Europa também. Está previsto para que em 2013 todas as salas americanas estejam digitalizadas. Aqui no País só tem 14% de salas digitalizadas. Detalhe: o Brasil tem hoje apenas 40% das salas que um dia já teve. E a garotada acaba querendo fazer filme em película para aparecer no cinema, já que há poucas salas digitais. E por que há poucas salas digitais? Porque os exibidores ficam esperando os benefícios fiscais para importarem equipamentos digitais com isenção. Eles têm equipamento analógico que dura 30 anos ou mais, enquanto o aparelho digital dura 10, 12 anos. 

Há muitos diretores surgindo no cenário nordestino? Como você vê essa nova safra?

FV. Na verdade eu não conheço muita gente até por conta das limitações. Eu tenho conhecido alguns lá pelo Festival de Jericoacoara (Ceará). Mas tem um pessoal surgindo sim, e é gente vinda do sertão. Os dois filmes cearenses que foram premiados em Jeri vieram de Acaraú e Quixeré. Tem um pessoal em Limoeiro, Russas, fazendo cinema bom, fazendo curta metragem. No Cariri tem também, mas esse pessoal é escondido. Os barões querem esconder esse pessoal com medo de eles pegarem a verba.

E quem são esses barões do Cinema?
FV. Ora, precisa dizer? Rosemberg Cariry e Wolney Oliveira (cineastas). Os coronéis de merda do cinema cearense. Esses caras são gigolôs da cultura, vivem a custa de dinheiro público desviado em orçamento. Por isso é que continua esse negócio de película, inviabilizando assim a abertura para mais gente. E é quando aparece mais gente que as pessoas vão se revelando, como nos Cine Clubes ou nos pequenos festivais. Já nos grandes festivais eles não aparecem porque lá só há desfiles de vaidade e premiação de filmes estrangeiros. É isso aí: o Cinema brasileiro está marginalizado e os festivais, inclusive o Cine Ceará, premiam filmes estrangeiros. É o dinheiro público indo para filmes de fora. Isso é que os coronéis de merda fazem, além de política de “puxa saquismo” com qualquer político que estiver no poder, a fim de sacar as verbas ou conseguir os patrocínios nos órgãos públicos federais, estaduais, municipais e privados. Então a receita para isso mudar é simples: abrir mais os editais. Aqui no Ceará, desde o governo de Lúcio Alcântara os editais fecharam. A modificação na lei feita pela dona Claudia Leitão (secretária de Cultura do Estado do Ceará, durante a gestão de Lúcio) inviabilizou muitos projetos ao reduzir prazos de captação, dificultando a vida dos artistas. Houve um grande prejuízo a partir dessa legislação do governo Lúcio Alcântara, e continua em vigor, barrando o trabalho de muita gente. Mas ninguém fala nisso. 

E como os novos cineastas estão conseguindo driblar esse cenário? 
FV. A questão da criatividade é um fator muito importante. Tem um rapaz de Pernambuco, muito talentoso, que ganhou um prêmio em cinema experimental lá no Festival de Jericoacoara (Ionaldo Araújo, vencedor da categoria Filme Experimental no II Festival de Cinema Digital de Jericoacoara, com o curta Uma Noite em 68). Ele ficou até surpreso, porque só tinha gasto 200 reais para fazer o filme e ganhou 5 mil reais. O que o Júri considerou? A criatividade dele. Os caras lá atrás fizeram um filme chamado Uma noite em 67 (filme de Ricardo Calil sobre a final do III Festival da Música Popular Brasileira, em 21 de outubro de 1967) e ele (Ionaldo) fez Uma noite em 68, só que pegou tudo da internet. Ele pegou o caso em que a Globo censurou o Geraldo Vandré (a música Pra não dizer que não falei de flores, de 1968, participou do III Festival Internacional da Canção, mas não ganhou supostamente devido a pressão militar), colocou uma imagem escura, a voz do Vandré,  e um texto. Pronto. O cara foi criativo, fez uma paródia. O digital permite isso. Esses meninos do Alumbramento (produtora formada por realizadores cearenses), pegaram um carro e fizeram um filme discutindo o próprio cinema. Custou dois mil reais. Foi citado pela ousadia. 

E o que dizer da indústria cinematográfica de Hollywood?
FV. A indústria cinematográfica acabou. Hollywood está pedindo perdão à China. O vice-presidente da China (Xi Jinping) esteve com o vice-presidente dos Estados Unidos (Joe Biden) discutindo o aumento das cotas para os americanos voltarem a ter qualquer 1% ou 2% do mercado chinês, pois Hollywood terminou o ano passado no vermelho. Então falar em indústria cinematográfica, em laboratório de tranfer para cá, é balela. Tem que investir é na moçada, na rapaziada, dar mais verba para eles fazerem as experiências deles, abrir mais a lei para facilitar o caminho dessa moçada. Mas há muita gente querendo dificultar isso para ficar comendo o pirão primeiro. A política de editais é correta, mas está errada. Do jeito que está sendo feito, está errado. Os Estados Unidos pediram para aumentar de 13% para 17,5% o percentual de lucro que os chinenes podem enviar de volta para os EUA. Pediram para aumentar a cota de filmes americanos também. A China só permite 20 filmes estrangeiros por ano. Aqui é o contrário, só temos direito a 28 dias para cada filme brasileiro. E nem isso ocorre porque não há fiscalização. Mas volto a dizer, no Brasil o grande problema é a distribuição.  Está tudo na mão deles. A distribuição e as salas. O fim da Embrafilme (Empresa Brasileira de Filmes) foi uma coisa de Hollywood. Ela financiava e distribuía o cinema brasileiro. 

Então o mercado é manipulado. 
FV. Sim, e ele manipula muito bem. Com muito dinheiro na mídia, sempre correndo para as grandes produtoras, com a Globo como associada, impedindo que os novos talentos surjam. Mas eles vão surgir de qualquer jeito, com governo, sem governo, ou até contra o governo, assim como surgiu o Cinema Novo, o movimento do Super 8.  No nosso tempo, o grande problema era arranjar uma câmera. Ela tinha que vir de fora. Hoje todo mundo tem câmera, ou um notebook com programa de edição. A minha filha fez um filme sozinha. A questão é o conteúdo e o que o Brasil está fazendo de real para se modernizar. A grande questão não é a construção de prédio, não é compra de equipamento, não se trata disso. Isso aí é jogar dinheiro fora. É desperdício. Os equipamentos estão aí na mão do pessoal. Não é por falta de equipamento que o pessoal está deixando de fazer, mas por falta de apoio. Eles não têm onde exibir, nem dinheiro para transporte, para a merenda dos  caras que estão filmando. Mesmo assim, eu lhe garanto que está saindo coisa boa. É só ir atrás. Tem a Associação Carnaubeira, em Russas (Ceará), por exemplo. Eles estão fazendo um bom trabalho, inclusive de animação, desenhos. Tem um quadrinista lá que é internacional, um cara que trabalha daqui para Londres, Nova Iorque, fazendo animação. No Ceará, várias cidades apresentaram trabalhos no Festival de Jericoacoara, mas essas coisas não aparecem. Tendo oportunidade, aparecem os talentos. 

Mas o número de desistentes deve ser grande diante de tantas dificuldades.
FV. Muitos desistem no primeiro ou no segundo filme. Dinheiro custa a chegar, demora a ter algum retorno, então eles enveredam para outras áreas. Eu que circulo nesse meio há cerca de 30 anos, vejo que a renovação é grande. Aqui as autoridades mandam a pessoa sair, ir para um centro mais adiantado. Já houve um governador que deu esse conselho a um artista. Essa é a mentalidade: “Faça como o Renato Aragão, vá para lá (Sudeste) e se dê bem”. Mas quantos foram e pastaram? Houve vezes em que a gente batalhou juntos aqui para ver se criava uma continuidade. O ponto de partida disso seria o Fundo Municipal de Cinema, que apoiaria filmes curtos para passar nas escolas, adaptando contos, historinhas aqui do Ceará contadas pelos historiadores. O principal alvo era a sala de aula, mas também as televisões etc. Uma fundação (Fundação Cearense de Cinema) também seria formada por um tripé: produção, formação, exibição. A política pública seguinte foi a legislação de incentivo no Governo do Tasso (Lei Nº 12.464, de 20 de junho de 1995, de incentivos fiscais à cultura). O então secretário da Cultura do Estado, Paulo Linhares, abriu a possibilidade de a gente fazer filmes. Essa foi a primeira vez que eu fiz filme com dinheiro público. Fiz cerca de nove filmes com e sem verba pública. Isso é o correto: dar condições aos artistas, como ocorreu em Jericoacoara. Lá o nome do prêmio é “Faça outro e volte o ano que vem”. O Cine Ceará começou como um festival de curtas e, hoje, para o curta não tem prêmio nenhum em dinheiro, só troféu. Ele se transformou em um evento Iberolatinoamericano, ou seja, um prêmio para a Espanha e Portugal, os nossos colonizadores. 

Como o senhor avalia a história do Cinema Brasileiro no Nordeste?
FV. Bom, vou começar falando que, do ponto de vista do cinema, Bahia não é Nordeste. Ela é à parte, pois está muito mais próxima do Rio de Janeiro. Tanto que Glauber Rocha e outros se mudaram para o Rio de Janeiro, e aí o Cinema Novo tomou força. O fato de os baianos fazerem filmes sobre o sertão, sobre o cangaço, não tira essa diferença, não inclui a Bahia no Nordeste quando se trata de fazer Cinema, até porque a Bahia estava quilômetros a frente do Cinema que se fazia em Pernambuco e do que se fazia aqui no Ceará, região em que o cinema se dava de uma forma episódica. Na Bahia sempre se esteve fazendo cinema: ou o pessoal de lá, ou gente filmando lá. Nelson Pereira dos Santos (diretor de cinema brasileiro), por exemplo, fez vários filmes (na Bahia), por isso muita gente achava que ele era baiano. Essa diferença precisa ser estabelecida. Geograficamente a Bahia é Nordeste, mas do ponto de vista do Cinema, não. A Bahia já fazia Cinema nos anos 1950 e se pagava na bilheteria. Coisa que os pernambucanos até fizeram em um ciclo da década de 1920. Já no Ceará isso nunca aconteceu.

Poderia falar um pouco sobre a memória cinematográfica do Ceará?
FV. É importante fazer justiça ao Ademar Albuquerque, fundador da Abafilm, um empresário rico, que orientou Benjamim Abraão (fotógrafo sírio-libanês-brasileiro), e este filmou o bando de Lampião e Maria Bonita. Benjamim era pior do que eu em fotografia, mas as únicas imagens que se tem de Lampião foram feitas por ele. O Ademar Albuquerque fez várias experiências a partir de 1924, fez trabalhos para o DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contras as Secas). Só que tudo isso parece não existir, pois você não encontra essa memória. Ela foi para o brejo. O único filme do Ademar que ainda existe é um do início da década de 1940, sobre uma visita do ex-presidente Getúlio (Vargas) ao Ceará, quando ele ainda era ditador. O filme já era até colorido. Hoje ele só existe por conta da Fundação Getúlio Vargas, que tem uma cópia preservada lá. Infelizmente parece que não existe o Ademar Albuquerque como cineasta. Falam do Benjamim, mas não falam do Ademar. Então o Ceará é essa coisa episódica. Pernambuco produziu grandes cineastas. Alberto Cavalcanti (diretor, roteirista e produtor cinematográfico brasileiro), por exemplo, brilhou na Europa, na Inglaterra. Depois voltou e fez alguns filmes. A produtora e atriz Aurora Duarte é cria dele. Houve mais alguns produtores pernambucanos, gente que inclusive arriscava grana. 

E os produtores cearenses não auxiliam o Cinema local?
FV. Os produtores que nós temos foram para fora do Estado. Alguns vêm ao Ceará aqui e acolá, mas nunca estiveram preocupados com o desenvolvimento do Cinema cearense. Salvo o Hermano Pena, que aos nove anos de idade saiu do Ceará, mais precisamente do Crato, e foi para Bahia, depois Brasília e São Paulo, mas que se preocupou com sua terra. Este formou gente aqui, fazendo a direção de fotografia dos curtas do Jeferson de Albuquerque Jr. O Hermano já tinha feito Sargento Getúlio (filme de 1983), que é um dos clássicos do cinema brasileiro, adaptado do livro do João Ubaldo Ribeiro. Ele veio aqui filmar e ensinava o pessoal lá no Cariri. Quem foram os alunos dele? Rosemberg Cariry, Firmino Holanda, Nirton Venâncio, Jackson Bantim, Luiz Carlos Salatiel, todo esse pessoal que até hoje continua. Foi o Hermano que ajudou a organizar os cineastas daqui naquele tempo, na Associação Brasileira de Documentaristas (ABD), entidade nacional.  

Quais reivindicações vocês fizeram naquela época?
FV. Íamos atrás de recursos, de saber como é que faz. Foi quando tentamos criar o Fundo Municipal de Cinema, em Fortaleza. Nosso poeta Barros Pinho era prefeito. Colocamos o projeto na mão do vereador Chico Lopes. Através desse Fundo, alimentado por recursos do ISS (Imposto Sobre Serviços)arrecadados dos cinemas, seriam financiados filmes de curta e média metragem de caráter cultural e educativo. Barros Pinho transformou isso em lei. Dois anos depois, na gestão da então prefeita Maria Luíza Fontenele, veio um decreto regulamentando e um Conselho foi nomeado, mas nunca funcionou. Nenhum prefeito colocou para funcionar, nem a Luizianne Lins (atual prefeita de Fortaleza). Quando a prefeita assumiu, mandei entregar a xerox de tudo a ela. E a Luizianne é do ramo, é da área, já havia feito alguns curtas. No entanto, a única coisa que ela fez foi a Vila das Artes (complexo cultural da Prefeitura Municipal de Fortaleza, vinculado à Secretaria de Cultura), um trabalho interessante. Eu respeito isso aí. Mas o “editalzinho”  de R$ 300 mil por ano é brincadeira, né? Bom, essa foi a primeira luta. Perdemos, mas está tudo em vigor. E não revogaram nada.

Como o Governo do Estado do Ceará se posicionou nesse cenário de fortalecimento do Cinema?
FV. Novamente Barros Pinho, então secretário de Cultura do Estado do Ceará (no final da década de 1980), criou uma Comissão Estadual de Cinema, nomeada para elaborar o estatuto da Fundação Cearense de Cinema. O estatuto está aqui, foi elaborado e passou pelo crivo da Procuradoria Geral do Estado. Quando Barros Pinho saiu e entrou a Violeta Arraes, a Comissão foi sepultada, a Fundação foi sepultada, e até um festival que eu e Eusélio Oliveira (cineasta) estávamos organizando, por solicitação do próprio Barros Pinho, também. E a história começou a ficar engraçada quando entrou o Polo Cinematográfico do Ceará (em meados da década de 1990), avaliado em 50 milhões de dólares. O Barretão trouxe uma planta baixa e botou na mesa do Tasso (Jereissati, então governador). Eu estava lá na plateia e vi de longe. Ele dizia: “Aqui é o lago artificial de 10 milhões de metros cúbicos, onde vamos fazer cenas de aventuras. Aqui são 10 mil metros quadrados de área construída etc”. Já tinha vindo tudo pronto, feito por um arquiteto francês. Eram não sei quantas salas de cinema, diversos laboratórios. O terreno que escolheram era onde é hoje o Horto Florestal, no município de Caucaia. Foi então que alguém mais atento pediu um estudo de viabilidade econômica, pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Desse estudo ninguém nunca ouviu falar, mas eu soube que ele desaconselhou o projeto. Agora estão querendo construir novamente. Falou-se que o  laboratório de transfer seria construído na cidade de Juazeiro do Norte. Ora, o analógico está acabado. Ninguém vai fazer mais filme analógico. É como eu disse: a tecnologia digital tornou tudo isso obsoleto.

Entrevista concedida aos jornalistas Francisco Bezerra e Lucílio Lessa  
lucilio@editoraassare.com.br

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